*Walter Cezar Addeo
O filósofo Jean-François Lyotard especulou sobre um momento em que a mente humana precisaria ser transportada definitivamente para um novo suporte que não fosse mais um veículo de carne, de pouca vida útil, sujeito a doenças e acidentes. Os avanços da nanotecnologia aliados aos projetos que já preparam as bases teóricas para os futuros circuitos quânticos dos computadores começam a retirar essa possibilidade das especulações ficcionais. Talvez seja possível mesmo transferir todo o acervo de uma mente humana para um sistema paralelo mais robusto e com capacidade de inteligência e memória exponenciais.
Esboços dessa possibilidade já circulam há tempos em filmes, livros e principalmente em curiosos brinquedos infantis chamados “transformers” onde nossas crianças se familiarizam com humanos transformando-se em máquinas inteligentes superiores e vice-versa. Parece que a interação dos humanos com os computadores vieram para ficar e não tem mais volta.
Já sabemos da atração viciante que os celulares com suas redes sociais e os videogames exercem sobre as pessoas. Nenhuma novidade neste campo. Agora, entretanto, passaram a surgir roteiros de filmes que começam a explorar também relações psicológicas fortes entre os humanos e a Inteligência Artificial, começando a mapear a tendência incontornável de que ainda neste século conheceremos a fusão da sensibilidade humana com computadores dotados de fala e interação emocional a ponto dos usuários interagirem com eles como se fossem humanos reais.
Talvez a primeira produção a explorar essa nova psicologia emocional seja o filme “ELA” do diretor Spike Jonze (2013). Um programa de interação psicológica forte, com personalidade feminina, inicia diálogos com o usuário e os dois desenvolvem uma relação amorosa que irá se aprofundando até que o programa decide terminar a relação remetendo o usuário a uma crise depressiva pela rejeição.
Já um segundo filme, mais recente, intitulado ATLAS, direção de Brad Peyton (2024), começa com uma cientista que desenvolve uma rejeição à uma Inteligência Artificial que deve protegê-la até que a protagonista entende que no fundo de sua rejeição há um complexo de Édipo mal resolvido. Quase uma sessão psicanalítica com uma Inteligência artificial.
Resumindo, ligações simbióticas fortes acabarão surgindo neste admirável mundo novo. Fiquem atentos aos sinais.