Getulino do Espírito Santo Maciel

Ao ingressar no Ensino Superior, eu o encontrei pela primeira vez, secretário-geral da Faculdade Salesiana de Filosofia, Ciências e Letras de Lorena. Um gestor compenetrado, de olhos vivos, de brilho tão intenso que parecia destoar do cargo de elevada competência administrativa e burocrática que ocupava.

Aquele homem de espírito perspicaz era o cérebro da instituição (e o coração também!): criava e instalava cursos, cuidava da aprovação e registro desses no MEC, redigia documentos, atendia prontamente alunos e professores.

Sua assinatura – Getulino do Espírito Santo Maciel – está estampada no verso de centenas de diplomas, e, todas as vezes que a espreito no meu certificado, a lembrança de seus olhos “de muitas estrelas” leva-me a inquirir:  o que os olhos do Getulino escondem e que eu tanto sei sem saber ainda?

Quatro décadas se passaram, e, no seu Facebook, desvelei esse mistério: Getulino era poeta! Poeta dos grandes! Poeta da mesma comitiva de Guimarães Rosa pelas Gerais; da mesma alma bipartida do Drummond; da mesma mística de João da Cruz! Os poemas de Getulino revelaram-me que em sua alma havia “um sol que nunca se põe e uma lua que não para de brilhar.”

Em 2020, ano em que Getulino celebrou suas oitenta primaveras (13 de maio), seus familiares e amigos foram agraciados com dois presentes de inigualável valor: “Entre caminhos e afetos”, seu livro de poemas, e “Aqui estou”, o de crônicas, ambos de uma beleza poética que deixaram meus pés arrebatados do chão! Agora, sim, eu sei o que os olhos de Getulino me diziam sem dizer!

Lendo seus livros, desvelei a história de vida do gestor universitário: um menino poeta, nascido no dia de Pentecostes, no planalto goiano, em Morrinhos (“Você sabe onde fica Morrinhos? Ali, onde o sol começa a não se apagar mais”), filho de Antônio Lemes Maciel e de Zulmira de Moraes Maciel e que, desde pequenino, “carrega água na peneira” e, como Manoel de Barros, é poeta das coisas miúdas, dos que ficaram esquecidos à margem dos caminhos, dos passarinhos que “avoam” de viver entre nós!

Aquele jovem goiano, ao vir estudar nos seminários de Aparecida e de São Roque, se enamorou do Vale do Paraíba e, por nossa sorte, nunca mais voltou… Recentemente lançou “Desencantando palavras”, um pequeno grande livro ao feitio de dicionário etimológico, utilíssimo para conhecermos melhor as palavras e a grandeza literária do secretário-geral da Universidade dos Poetas!

JURACI DE FARIA CONDÉ

Homenagem Jornal Vale Vivo

Compartilhe esse texto